Monday 7 February 2011

D. Carlos Ximenes Belo


D. Ximenes Belo ganhou o Prémio Personalidade Lusófona do Ano 2010.

Tive o prazer de conhecer D. Ximenes em Timor-Leste no muito conturbado e confuso outono de 2006, quando andávamos todos - a ONU, o Banco Mundial, a Cruz Vermelha Internacional e algumas dezenas de ONGs, entre as quais o Club de Madrid cuja missão em Dili eu coordenava - a tentar que os principais actores timorenses pusessem de lado as suas animosidades pessoais e se sentassem para procurarem resolver a crise de 2006.

A certa altura, convenci-me que a única pessoa que teria influência sobre os dois principais protagonistas da crise seria D. Ximenes que, à época, vivia em Roma e muito contente fiquei quando soube que o ex-Bispo de Dili acabara de chegar a Timor. Através de contactos no Governo Timorense, consegui um encontro a dois com D. Ximenes. Depois de algumas alterações ao local onde nos encontraríamos devido à violência que grassava nas ruas de Dili naquela manhã, fui levado a uma sala modestamente mobilada onde encontrei D. Ximenes sentado, sozinho, com um ar triste e abatido.

Cumprimentou-me distraidamente e eu tentei discutir a situação de Timor mas D. Ximenes parecia pouco interessado. O silêncio só se quebrou quando o informei que eu havia sido aluno do Colégio Salesiano de Lisboa - ordem religiosa à qual D. Ximenes Belo pertence - o que lhe provocou um sorriso triste e o comentário de "a família encontra-se".

Depois de alguns momentos mais em silêncio, D. Ximenes disse, mais para ele próprio do que para mim, que não compreendia a violência que Timor Leste vivia. Depois de anos a lutar pela independência, disse ele, agora os Timorenses lutavam uns contra os outros. Depois contou-me que tivera que mudar o local do nosso encontro pois havia combates no mercado de Comoro (a leste de Dili) e que nem ele estava a salvo. A nossa conversa, ou o seu monólogo, acabou pouco depois e eu nunca mais vi D. Carlos Ximenes Belo.

Tenho a certeza que se D. Ximenes lesse este post, não se lembraria de nada, mas eu nunca mais me esqueci do óbvio sofrimento que ele vivia, sozinho naquela sala mal iluminada, enquanto Timor-Leste ardia.

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