Sunday 28 February 2010

A nossa insignificância


Nas últimas semanas o Haiti, a Madeira, a Europa - em particular a França - e o Chile relembraram tragicamente a nossa insignificância e impotência perante a força da natureza. Embora não se possa atribuir os terramotos do Haiti e do Chile às alterações climáticas, já não estou tão certo que as tragédias da Madeira e na Europa não sejam consequências da forma como temos agido colectivamente no último Século.

Não haverá muitos Planetas que possam sustentar a diversidade biológica que a Terra tem e, assumindo que os há, não os conhecemos e não me parece que estejamos prontos para nos mudarmos colectivamente para lá. Se por não outra razão que não seja essa, seria prudente tomarmos melhor conta da única casa que temos.

Friday 26 February 2010

E por cá continua o frio e a chuva


Whitehaven Island, the Whitsundays, Queensland, Australia.

Thursday 25 February 2010

O fantasma reformado


Hoje fomos ver "Love Never Dies", a continuação do "Fantasma da Ópera" que se passa em Coney Island 10 anos depois dos acontecimentos do musical original. Fui entusiasmado porque o "Fantasma da Ópera" foi o primero musical que vi, durante a nossa lua de mel em Nova Iorque.

Mas não gostei por aí além. A música não é tão boa como no Fantasma e a história é irritante: O Raul é um bebado cheio de dívidas e o fantasma é, afinal, um bom homem, que recupera o amor da Christine e parece perdoar quem lhe faz mal. Em compensação, os cenários e a encenação são óptimos e os cantores têm óptima voz.

Sem prejuízo, foi um serão bem passado num teatro completamente à cunha.

Wednesday 24 February 2010

As línguas das ciências


Há uns anos em Bristol, explicou-me o Matt - que tinha acabado o seu doutoramento em matemática - que existem vários infinitos, uns mais infinitos que os outros. Aos meus ouvidos de humanidades, aquilo não fez sentido nenhum: se é infinito, ou seja, se não tem fim, como é possível haver uns infinitos dentro de outros infinitos?

Anos mais tarde o Nuno Crato, um dos nossos melhores divulgadores da ciência, explicou-me num almoço em Oxford o que o Matt queria dizer: se considerarmos só os números postivos (de 1 a infinito) esse conjunto não tem fim mas é metade do conjunto dos números positivos e dos numeros negativos (que vai de menos infinito até mais infinito).

Tão importante quanto investigar ciência é saber explicá-la.

As fúrias do Chefe e a queda dos Tories


A última dor de cabeça dos trabalhistas é um longo e entusiasmado debate público, que já dura há 5 dias, sobre se o PM perde a paciência e se zanga com as pessoas que trabalham no Nº 10 Downing Street e que já deu direito a queixa junto da "bullying hotline", uma linha de telefone confidencial para pessoas que se sentem mal-tratadas pelos respectivos chefes.

Sem prejuízo, as últimas sondagens coincidem em mostrar uma subida dos trabalhistas e uma queda dos conservadores. Será que ter mau feitio é uma vantagens?

Thursday 18 February 2010

Discutir Timor em Oxford


Este fim de semana vou apresentar uma comunicação num seminário sobre Timor Leste, no St. John College em Oxford. Baseado nos contactos e nas experiências dos meses que passei em Dili, vou argumentar que a crise de 2006 não foi contida porque o desenho institucional timorense tem pouca relação com a tradição do exercício do poder político em Timor e, portanto, com a percepção de legitimidade política dos timorenses.

Sendo sempre um prazer voltar à Universidade, tenho particular gosto em ir discutir Timor - de onde guardo alguns amigos, boas memórias e muitas lições - numa Universidade como Oxford, que dispensa comentários.

Wednesday 17 February 2010

Um ano de Velha Albion


Faz hoje um ano que comecei este blog e muito me tenho divertido a escrevê-lo e a lê-lo, embora manter um blog exija alguma disciplina que, confesso, às vezes falha-me ou por não ter nada a dizer ou porque não tenho paciência para escrever.

Agradeço a todos os amigos e aos (poucos) desconhecidos que visitaram ou visitam a Velha Albion e todos os comentários que recebi. Tentarei ser mais regular a contar as histórias e a mostrar as fotografias destas ilhas.

Monday 15 February 2010

Diplomacia económica

O programa da BBC4 sobre a diplomacia britânica onde se contou a história do pente do careca (ver dois posts abaixo), foi dedicado às relações entre o Reino Unido e a China.

Embora a transição de Hong Kong tenha ocupado uma parte importante do programa, houve amplo espaço para se debater a primeira missão diplomática britânica ao Império do Meio que, conduzida por um nobre anglo-irlandês no Séc. XVII, tinha como principal (se não único) objectivo, abrir o já então enorme mercado chinês ao comércio e garantir o fornecimento de chá para estas ilhas.

Partindo desta missão diplomática - que, por sinal, falhou redondamente - o programa apresenta um conjunto importante de ex-embaixadores e ex-ministros dos negócios estrangeiros a falarem na importância da diplomacia económica e do papel dos Embaixadores e das missões diplomáticas na promoção e protecção das empresas britânicas nos países onde estão colocados.

Mas não são só os britânicos que têm presente a importância da diplomacia económica: quando fui Secretário de Estado recebi um "convite urgente" para almoçar com um Embaixador de um País da União Europeia no próprio dia. Sem saber o que justificava tamanha urgência, aceitei de imediato o convite. Ao chegar à residência do embaixador, fui levado directamente para a sala de jantar onde a mesa estava posta para duas pessoas, o que me pareceu mais um sinal de eminente crise diplomática. Depois das simpatias habituais, entrámos no tema do almoço: uma empresa do País representado pelo meu anfritião que estava a ter problemas com uma direcção-geral portuguesa.

Embora bastante mais tarde que outros países, também nós incorporámos a economia e as empresas nas nossas preocupações diplomáticas e a crescente intimidade entre o MNE e o Ministério da Económia, através da AICEP, nomeadamente a co-instalação das Embaixadas e dos Centros de Negócios da AICEP e a nomeação dos respectivos directores como Conselheiros Económicos e Comercias é disso prova.

O futuro de um País depende tanto da sua economia como da sua política e a utilização dos vários mecanismos de política pública para a sua promoção é apenas uma questão de bom senso.

Down Under e sem paciencia para tontos

Tirado do blog (www.xananarepublic.blogspot.com) do Wayne Lovell, que dirige a escola onde aprendi a mergulhar em Timor.

These were posted on an Australian Tourism Website and the answers are the actual responses by the website officials, who obviously have a great sense of humour (not to mention a low tolerance threshold for cretins!)

Q: Does it ever get windy in Australia ? I have never seen it rain on TV, how do the plants grow? ( UK ).
A: We import all plants fully grown and then just sit around watching them die.

Q: Will I be able to see kangaroos in the street? ( USA )
A:Depends how much you've been drinking.

Q:I want to walk from Perth to Sydney - can I follow the railroad tracks? ( Sweden)
A: Sure, it's only three thousand miles, take lots of water.

Q: Are there any ATMs (cash machines) in Australia ? Can you send me a list of them in Brisbane , Cairns , Townsville and Hervey Bay ? ( UK)
A: What did your last slave die of?

Q:Can you give me some information about hippo racing in Australia ? ( USA )
A: A-Fri-ca is the big triangle shaped continent south of Europe . Aus-tra-lia is that big island in the middle of the Pacific which does not... Oh forget it. Sure, the hippo racing is every Tuesday night in Kings Cross. Come naked.

Q:Which direction is North in Australia ? (USA )
A: Face south and then turn 180 degrees. Contact us when you get here and we'll send the rest of the directions.

Q: Can I bring cutlery into Australia ? ( UK )
A:Why? Just use your fingers like we do...

Q:Can you send me the Vienna Boys' Choir schedule? ( USA )
A: Aus-tri-a is that quaint little country bordering Ger-man-y, which is Oh forget it. Sure, the Vienna Boys Choir plays every Tuesday night in Kings Cross, straight after the hippo races. Come naked.

Q: Can I wear high heels in Australia ? ( UK )
A: You are a British politician, right?

Q:Are there supermarkets in Sydney and is milk available all year round? ( Germany )
A: No, we are a peaceful civilization of vegan hunter/gatherers. Milk is illegal.

Q:Please send a list of all doctors in Australia who can Dispense rattlesnake serum. ( USA )
A: Rattlesnakes live in A-meri-ca which is where YOU come from. All Australian snakes are perfectly harmless, can be safely handled and make good pets.

Q:I have a question about a famous animal in Australia , but I forget its name. It's a kind of bear and lives in trees. ( USA )
A: It's called a Drop Bear. They are so called because they drop out of Gum trees and eat the brains of anyone walking underneath them.You can scare them off by spraying yourself with human urine before you go out walking.

Q:I have developed a new product that is the fountain of youth. Can you tell me where I can sell it in Australia ? (USA)
A: Anywhere significant numbers of Americans gather.

Q:Do you celebrate Christmas in Australia ? ( France )
A: Only at Christmas.

Q: Will I be able to speak English most places I go? ( USA )
A: Yes, but you'll have to learn it first

O pente do careca


A BBC4 continuou hoje uma serie sobre a diplomacia britânica, debruçando-se sobre as relações com a China. Ao falar dos presentes que essa embaixada levava para o Imperador, a narrativa desviou-se momentaneamente para discutir a importância dos presentes nas relações entre os Estados, contando que na primeira visita da Senhora Thatcher ao Secretário-Geral da União Sovietica Gorbachev.

Na viagem para Moscovo, a PM pediu para ver o presente que iria oferecer a Gorbachev. Ao abrir a caixa, deparou-se com um par de escovas de cabelo com os cabos em prata. Horrorizada, a senhora Thatcher clamou: "Mas ele é careca!!!"

Pouco depois, um outro funcionário do protocolo meteu-se num avião em Londres para Moscovo levar um novo presente, mais adequado às características físicas do anfitrião.

Sunday 14 February 2010

A fé dos (nos) Homens


Hoje fui tomar um café com a Aurea Ximenes, com quem trabalhei em Timor e que agora está em Londres. A conversarmos sobre os nossos trabalhos na Ilha do Crocodilo, ela lembrou-me uma reunião que tivemos com o Bispo de Baucau que, não só pela representatividade da Igreja mas também pela sua postura perante as questões políticas locais, será um dos homens mais importantes de Timor.

Descrevendo a crise de 2006, D. Basílio do Nascimento, perante a violência diária e, na altura, sem solução aparente, disse com uma voz pesada: "pedia a Fé" acrescentando, depois de uma pausa estudada, olhando para as nossas caras de espanto e com um sorriso de troça "no governo".

Felizemente a situação em Timor melhorou substancialmente desde 2006.

Friday 12 February 2010

A genética selectiva


Ontem houve na Embaixada a prova anual dos 50 melhores vinho portugueses, que atraiu um número considerável de pessoas interessadas e sabedoras.

Como em anos anteriores, participei numa chamada "prova dirigida" em que uma entendida na matéria guia-nos na prova dos vinhos, explicando as diferenças entre as várias castas e identificando os vários sabores que compõem cada vinho. Como em anos anteriores, não fui capaz de identificar nada!

Por outro lado, embora goste imenso de música e passe o tempo a ouvi-la, não tenho ouvido nenhum e todas as minhas tentativas de tocar um instrumento foram um absoluto fracasso.

Como tenho um avô e tio maternos que foram e são enólogos e um avô e tio paternos que foram e são maestros, sempre gostava de saber onde andam os meus genes do "nariz" e do "ouvido".

Um bom dia para a Europa

A União Europeia teve ontem um bom dia.

Por um lado criou-se um mecanismo de apoio aos Países da zona Euro que sofram choques assimétricos, ultrapassando o maior problema técnico da União Económica e Monetária. Poderão, os mais desconfiados, dizer que a Grécia passou a ser um país tutelado, mas parece-me ser isso melhor a ser uma país falido.

Por outro lado, o Parlamento Europeu recusou por larga maioria um acordo que a Comissão Europeia e os Estados Unidos tinham negociado, segundo o qual as autoridades americanas teriam acesso às transações monetárias dos cidadãos europeus realizadas através do sistema Swift, acesso esse que, na Europa, exige um mandato judicial mas que, nos termos do acordo agora recusado, os americanos fariam sem qualquer controle.

Será que a Europa acordou?

Um Homem bom


Fez ontem 20 anos que Nelson Mandela foi libertado. Lembro-me de ver as imagens na televisão do quartel do Regimento de Artilharia de Lisboa, onde estava de serviço, sem perceber que estava a ver um Homem bom que iria marcar o mundo com o seu exemplo de tolerância, paz e concórdia.

Mais tarde, li a autobiografia "um longo caminho para a Liberdade" onde Mandela conta a sua vida e a evolução de filho de um Chefe tribal a respeitado estadista. Da sua longa prosa, marca-nos a evolução humanista e a lenta mas segura transformação de um homem cheio de rancores - com razão para os ter - para um homem cheio de compaixão.

Muito devemos nós, todos nós, ao exemplo de Nelson Mandela. Um Homem Bom que salvou a África do Sul do caos e que nos deixa a todos um pouco mais perto da nossa humanidade.

Wednesday 10 February 2010

Na meia idade

É oficial. Estou na meia idade. Tenho que usar óculos para ler.

Tuesday 9 February 2010

Monday 8 February 2010

Argumentos a favor da televisão pública

A televisão no Reino Unido, como em Portugal, está cheia de séries americanas - algumas muitíssimo boas e outras péssimas -, programas assustadores "da vida real" como corpos desfigurados que, como o nome indica, roda à volta das tristes vidas de pessoas horrivelmente gordas ou com deformações físicas, crianças que se portam horrivelmente mal e outras pérolas do género.

No meio disto tudo, há a BBC. Quase todas as noites a BBC, nomeadamente a BBC1 e a BBC4, oferecem programas de história britânica ou mundial, de cultura, boas sérias britânicas (e algumas menos boas), documentários e outros. Na semana passada pude ver um programa sobre a idade média na Inglaterra, um documentário sobre os reinos tradicionais africanos, uma séria sobre o papel da Royal Navy na formação do carácter britânico, uma série sobre o papel dos chamados "ministérios de soberania" que começou com o papel do MNE e semana que vem irá tratar do MAI e um debate sobre o papel das biografias políticas e diários de políticos na formação da memória colectiva, para citar apenas alguns.

Como a BBC vive da chamada taxa de televisão e não tem publicidade, não está condicionada à vontade do mercado e pode dar-se ao luxo de produzir programas que, reconheço, nem toda a gente gosta de ver. Acresce que, para impedir a "italianização" da BBC, a independência da sua linha editorial é garantida por uma "carta" que a protege de interferências indevidas.

A BBC é um óptimo argumento a favor da televisão pública que cumpra o seu papel de nicho sem tentar ser mais comercial que as televisões privadas. É igualmente um óptimo argumento a favor da televisão como meio de entertenimento e cultura.

E ao canto, está um Da Vinci

Este fim-de-semana fomos jantar a casa da Marina e do Alexandro, amigos italianos de Bristol que vivem em Londres. Cercados por pizzas caseiras óptimas, fomos pondo a conversa em dia e, em particular, o novo emprego do Alexandro que agora trabalha na National Gallery.

Contou ele que entre outros passos no processo de boas vindas à National Gallery, visita-se os seus vários departamentos incluindo a carpintaria - onde se produzem e "envelhecem" as molduras usadas no Museu de forma a coincidirem com a idade dos quadros - e o departamento de restauros.

Neste último, estavam a restaurar um Ticiano (penso eu) que o Alexandro foi ver de perto, mas com muito cuidado para não derrubar um Da Vinci que, encostado displicentemente a uma parede, aguardava a sua vez de ser restaurado.

Friday 5 February 2010

A brincar com fogo

Numa altura em que os mercados estão absolutamente desconfiados sobre a nossa capacidade de dominar o déficit público e que a credibilidade internacional da nossa economia está sob escurtínio intenso, esperava-se que as instituições portuguesas tivessem a coragem e o sentido de estado necessário para enviar os sinais certos.

Era bom, mas não. O sinal que damos é autorizar mais individamento regional e aumentar ainda mais a dívida publica.

Aparentemente os pirómanos têm a chave do carro dos bombeiros. Arriscamo-nos a acabar queimados!

Thursday 4 February 2010

Innovating Portugal

Terminou ontem o primeiro ciclo de conferências dedicado à inovação, modernidade e inteligencia de origem portuguesa organizado pela AICEP Londres, o Barclays com o apoio da TAP e de um conjunto grande de associções britânicas de vários sectores.

Foram 10 meses a mostrar, a cada dois meses, o que de melhor fazemos em áreas tão diferentes como as Energias Renováveis, a Sociedade da Informação, a Biotecnologia e Saúde, a Contrução e os Materais de Construção e os Oceanos. Foram 10 meses a mostrar aos empresários de topo britânicos que Portugal é destino de negócios e origem de ideias boas, novas e eficazes.

Em 2010 continuaremos a apresentar soluções portuguesas para problemas globais.