Wednesday 24 November 2010

Solidariedades


Tinha eu acabado de chegar ao MNE quando tive que me reunir com o Embaixador de um País amigo para lhe dar uma má notícia. Antes de o fazer, e como é hábito no Ministério, falei longamente com o nosso Embaixador colocado naquela Capital que me deu todas as informações necessárias para o encontro que se seguiria.

Terminada a conversa, o nosso Embaixador disse, como é de praxe, que caso eu visitasse o País onde ele estava colocado, teria todo o gosto que eu ficasse instalado na sua casa. Pensando na cidade particularmente desagradável onde o nosso homem servia a Pátria, respondi-lhe com sinceridade que só o visitaria se a isso fosse obrigado. De imediato o reservado Embaixador, esquecendo anos de treino diplomático, levantou-se da cadeira onde estava sentado com uma velocidade que não me parecia possível e disse com um misto de resignação e esperança: Eu também não gosto de lá estar!

Anos mais tarde, voltando eu a Portugal via um País remoto, fui almoçar com o nosso Embaixador (que não o mesmo da história anterior) que estava colocado naquelas paragens há muito anos e perguntei-lhe se haveria algum recado que ele quisesse que eu transmitisse ao MNE. O bom homem, olhando pela janela, suspirou e disse num quase sussurro: que não se esqueçam de mim...

No imaginário popular da vida de um diplomata nem sempre nos lembramos que Roma, Paris, Londres ou Nova Iorque são a excepção e não a regra.

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