Monday 14 November 2011

Paga o que deves, mas não te degraces

Os jornais passaram o fim-de-semana a clamarem que os mercados derrubaram o ex-Primeiro-Ministro italiano mas, como bem lembrava um amigo no domingo à noite, quem derrubou Berlusconi foram as dívidas acumuladas pelo Estado italiano.

O príncipio básico de uma relação comercial ou financeira é pagar-se o que se consome e/ou o que se pede emprestado. Sem isso não há segurança nos negócios e, portanto, não há negócios. Quem venderá ou emprestará se souber que não será pago ou que não receberá de volta o que emprestou nas condições acordadas? Se esperarmos que o sistema funcione, ninguém. Aliás, é esse o drama que vivem as empresas sérias na Europa e nos Estados Unidos: no passado recente, os bancos emprestaram a quem não pago, ficaram com as dívidas e sem o dinheiro e agora não emprestam nem ao justo nem ao pecador.

Dito isto, é do interesse de quem empresta que quem pediu emprestado seja capaz de pagar e, idealmente, que volte a pedir e a pagar, pelo que não será do interesse de ninguém impor condições que levem à bancarrota dos devedores, sob pena de nada receber. E há, claro está, uma obrigação de quem deve em cortar os seus custos de forma a viver dentro das suas possibilidades e pagar o que deve.

Há, portanto, um equilibrio - difícil mas necessário - entre o direito legítimo de quem emprestou em receber e a capacidade de quem pediu emprestado em pagar.

Assim, acho natural que os Estados Europeus que devem façam os sacrifícios necessários para pagar as suas dívidas. Mas olhando para o efeito no crescimento dos programas de redução da despesa dos vários Estados, questiono se a velocidade que se espera que o ajustamento seja conseguido não será rápido de mais.

Portugal irá ter um crescimento negativo de 3% no ano que vem e teremos que diminuir o nosso déficit de forma substantiva. Ou seja, vamos ter que diminuir os nossos gastos num ano em que vamos ganhar menos, o que significa que haverá muito menos dinheiro para as despesas que consideramos fundamentais. Sem entrar no debate do que é que consideramos colectivamente fundamental, um prazo de ajustamento mais lato teria efeitos mais diluidios no nosso crescimento e, portanto, na nossa capacidade de pagar o que devemos e aquilo que temos que pagar para viver.

No interesse de todos - credores e devedores - revisitar os prazos do ajustamento seria avisado e útil.

Dito isto, não deve ser Portugal a questionar os termos do ajustamento. Somos os devedores e temos que mostrar - por actos e palavras - que somos sérios, que estamos dispostos a reconquistar o nosso bom nome e que não há risco para quem nos queira emprestar dinheiro no futuro. Esperemos que outros, que não devem tanto ou que são nossos credores, sejam rápidos a propor as mudanças que nós não podemos propor mas que seriam bem-vindas.

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