Sunday, 31 July 2011

Um novo - e longo - título


Este blog pretende ser um reflexo do que vou pensando sobre temas que me chamam a atenção, sem grande coerência ou periocidade. Começou por serem notas sobre a vida vistas de Londres e chamou-se apenas "Da Velha Albion"; depois passou a ser um olhar com base em São Paulo e o seu nome cresceu para "Da Velha Albion às Terras de Vera Cruz"; e agora será uma visão com base em Lisboa, pelo que é altura de lhe acrescentar uma nova referência geográfica: "Da Velha Albio à Lusitânia, passando pelas Terras de Vera Cruz".

Para o leitor ou leitores destas notas, a mudança de título não altera em nada a forma de acesso que continua a ser simplesmente www.davelhalbion.blogspot.com, mas para a forma de ver o que me rodeia, tenho a certeza que a mudança será muito mais profunda do que apenas no título.

Espero continuar a vê-los por aqui.

Fala Brasil


Chegado ontem a Lisboa, hoje fui jantar com uns amigos que não via há muito tempo e, sem notar, usei um grande número de expressões brasileiras na conversa, como "oi?" quando não percebi o que me disseram, "isso!" quando quis confirmar ou concordar com o que estava a ser dito ou "bagunça" quando descrevi alguma coisa que não correu bem.

Desde a minha ida para São Paulo me impressiona a capacidade de integração de gentes vindas de todos os lados do Mundo que o Brasil tem, mas não tinha percebido que em meros 10 meses o meu discurso se tropicalizou.

Afinal o Brasil entrou-me na pele muito mais depressa e muito mais sorrateiramente que eu havia pensado ou percebido.

Wednesday, 27 July 2011

A vida dentro de caixas


Já perdi a conta ao número de mudanças que fiz desde 2001 e, pensando em cada um dos lugares onde vivi, não me arrependo de nenhuma. Mas detesto as caixas que fazem parte das mudanças e sejam quantas tenham sido, hoje lá fiz mais uma.

Entram-nos pela casa a dentro, vestidos de igual e carregados de caixas, papéis de tamanhos e texturas diferentes, fitas adesivas e ferramentas. Olham com olhar entendido para as nossas coisas - que a nós muito dizem mas que para eles nada são - medem espaços, embrulham tudo com rapidez e eficiência e num instante, toda a nossa vida desaparece em quase 100 caixas numeradas e identificadas. Depois aparece um caminhão que engole as caixas para as meter num navio que atravessará parte do Atlântico sul e parte do Atlântico norte desde o porto de Santos até ao porto de Lisboa.

Eventualmente as caixas chegam a casa. Novo drama e nova crise: onde meter as caixas de forma a não sermos nós explusos de casa. Abri-las e tentar organizar as coisas que chegam com as coisas que nunca partiram. Dias e dias a olhar para as caixas que - por mais que trabalhemos - parecem não acabar.

E depois, se o padrão se mantiver, nova mudança sabe-se lá para onde com esperança de tudo correr bem e fazendo por não pensar nas caixas que nos seguem - obedientes mas assutadoras - levando a nossa vida de um porto para o outro.

Monday, 25 July 2011

A minha nova casa


Para quem ainda não sabe (e tem curiosidade em saber), voltarei para Portugal para trabalhar na Leadership Business Consulting, uma consultora portuguesa de gestão estratégica com presença em Portugal, Angola, África do Sul, Cabo Verde, Espanha, Estados Unidos e Moçambique e ambição de ir muito mais além.

Numa altura de crise e desanimo nacional, abraço este grande desafio com a satisfação de ver que há empresas portuguesas que não desistem e que vão em frente. Espero dar o meu contributo para que a Leadership atinja os objectivos que se propos.

Sunday, 24 July 2011

Fundamentalismo


Seja de esquerda, de direita, religioso, ateu, científico, político, cultural, social ou de qualquer outra forma, feitio ou razão, o fundamentalismo é sempre horrível e visa sempre os inocentes.

Ontem foi na Noruega, amanhã poderá ser em qualquer outro lugar.

Friday, 22 July 2011

Razões para sorrir


Pela primeira vez em meses, os mercados parecem estar (mais ou menos) convencidos pelas decisões tomadas pelo Conselho Europeu de ontem. Será desta?

Caixote e mais caixotes... outra vez


Quem segue este blog e tem boa memoria poderá reconhecer esta imagem, que usei quando estava a tratar da vinda de Londres para São Paulo e a deseperar com a burocracia, o trabalho e a correria. Menos de 11 meses depois, eis-me outra vez a tratar de uma mudança, desta vez de volta para Portugal.

Será a última? Sinceramente, espero que não! Viver em vários países e conhecer várias culturas tem sido um dos grandes prazeres da minha vida profissional. Gostaria, no entanto, que até à próxima mudança eu tenha tempo de desfazer todos os caixotes que levarei do Brasil, o que não aconteceu com os caixotes que vieram de Londres...

Tuesday, 19 July 2011

De volta a Portugal


Depois de quase 4 anos de muito trabalhar para a promoção da economia e das empresas portuguesas, primeiro no Reino Unido e agora na América do Sul, deixarei a AICEP no final de Agosto para novos desafios, desta vez em Portugal.

Foram anos de grande aprendizagem, algumas angustias e outros tantos sucessos que, somados aos mais de 4 anos em Bristol e Cardiff, ao ano do MNE e aos largos meses em Timor-Leste, constituem a mais interessante década da minha vida.

Dirão alguns que escolhi a pior altura possível para voltar a Portugal. Assim poderá ser, mas os desafios e as oportunidades surgem quando surgem e continuarei ligado ao Brasil e às suas empresas.

Aos meus amigos nas Terras de Vera Cruz digo "vou ali mas volto já", enquanto que aos meus amigos no nosso Portugalinho digo "estive fora, mas agora estou de volta".

Sunday, 17 July 2011

Outra fibra de pessoas


A BBC apresentou duas "lectures" de Aung San Suu Kyi, lider da resistência da Birmânia e Prémio Nóbel da Paz. Na primeira Aung San Suu Kyi fala sobre a sua experiência pessoal e os mais de 20 anos de liderança do movimento de democratização birmanês. Na segunda "lecture", ela discute o papel do seu partido - a Liga Nacional para a Democracia -, a relação entre a resistência armada e os instrumentos de resistência não-armada e a forma como a ditadura militar tem procurado esmagar o partido.

Aung San Suu Kyi, uma mulher pequena e fisicamente frágil, desempenha na Birmânia o papel que Nelson Mandela desempenhou na África do Sul, Vaclav Havel na Checoslováquia, Lech Walesa na Polónia ou Andrei Sakharov na União Soviética. São um grupo à parte no conjunto da humanidade.

Friday, 15 July 2011

Previsibilidade no Mercado? Nem pensar!!


Conhecidos os resultados do teste de stress dos bancos europeus, ficámos a saber que no opinião das autoridades europeias, todos os bancos portugueses ultrapassaram os requisitos de resistência necessários para sobreviver a uma futura crise. Sem negar que os testes agora publicados não têm em consideração um eventual default da dívida grega, não deixo de ficar contente em saber que a nossa banca está em melhor situação do que muitos previam.

No entanto, e sem prejuízo para o resultado dos testes de stress da banca portuguesa, a Moody's (sempre estes) cortou o rating de 4 dos 5 bancos avaliados.

Sem entrar no mérito de quem terá razão, limito-me a constatar que alguma coisa terá que mudar no funcionamento do sistema de avaliação internacional já que não há previsibilidade possível no mercado quando se ouve uma coisa e o seu contrário no mesmo dia.

Dia Internacional do Homem


Descobri hoje que há um dia internacional do homem: em todo o mundo é a 19 de Novembro e no Brasil, por qualquer razão que me escapa, é hoje.

Assim, desejo a todos - e também a todas - um feliz Dia Internacional do Homem (versão brasileira).

Pentágono Escola Atualizada


Quando vivi aqui em São Paulo na década de 70, estudava no Pentágono - auto-intitulado de "escola atualizada" - que funcionava numa pequena casa no bairro das Perdizes, guardando boas memórias dos anos que lá passei e das pessoas que lá conheci - sendo certo que não sei o que lhes aconteceu nos últimos 30 e tal anos.

Embora hoje em dia o Pentágono seja um dos grandes colégios de São Paulo, a minha escola foi derrubada há anos, mas graças à internet consegui encontrar a fotografia que ilustra este post e que faz parte das minhas paulistanices originais.

Thursday, 14 July 2011

Regulamentação e auto-regulamentação


O Reino Unido está a ser abalado por um escandalo de escutas telefónicas levados a cabo pelo agora encerrado News of the World a políticos, celebridades, familiares de vítimas de crimes, familiares de soldados mortos no Afganistão e Iraque e vítimas dos atentados terroristas de 2005, entre outros.

Para além de outras considerações morais, legais, económicas ou políticas que possamos tecer, este caso é um óptimo exemplo da formação de uma política regulatória britânica.

Ao contrário de países como Portugal ou o Brasil, o legislador britânico tende a incentivar os vários sectores da sociedade a encontrem uma plataforma de entendimento que permita a auto-regulação dos vários interesses, muitas vezes contraditórios, que se confrontam diariamente. Se a sociedade se mostrar capaz de se organizar de forma satisfatória, o poder público não intervem mas quando a auto-regulação falha, o legislador britânico substitui-a pela regulamentação pública.

Como em quase tudo, há vantagens e inconvenientes no modelo britânico de regulação. Se, por um lado, garante um grau de liberdade da sociedade que não conhecemos em países de tradição latina, por outro lado a reacção pública à quebra da auto-regulação é, por norma, tadia e, por isso mesmo, exagerada. Como se diz em Portugal, "casa roubada, trancas à porta".

Sem prejuízo para os problemas e deslates que podem resultar da auto-regulação, prefiro uma sociedade que onde somos tratados como adultos a uma sociedade sem poder de escolha.

Wednesday, 13 July 2011

Triste tabela


A Consultora Mercer acaba de publicar a lista anual das cidades mais caras do Mundo. Tal como no ano passado, Luanda (Angola), Toquio (Japão) e Jamena (Chade) continuam a ser as cidades mais caras do Mundo, seguidas por Moscovo e cidades na Suíça e Japão.

Olhando para as posições relativas de 2009 para 2010, nota-se que as mais espetaculares subidas do ano foram três cidades no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), três cidades na Austrália (Sidney, Perth e Brisbane) e uma cidade no Burkina Faso (Ougadougout). No que mais me diz respeito, registo com dor na carteira que São Paulo passou de 21ª para a 10ª posição, enquanto que o Rio de Janeiro saltou da 29ª para a 19ª posição e Brasília entro directamente para a 33ª posição.

Cada vez que vou ao supermercado venho não só mais pobre mas, e principalmente, pessoalmente ofendido com o custo de vida em São Paulo. Há um triste consolo em ver a minha ofensa confirmada nas tabelas mas preferia estar enganado!

Monday, 11 July 2011

Golfinhos no Tejo


Sábado passado foram observados cerca de 20 golfinhos no Rio Tejo em Lisboa. Embora haja discordâncias entre os dois especialistas ouvidos pelo jornal "Público" sobre o significado, possíveis razões da visita dos golfinhos a Lisboa e se teremos oportunidade de os ver outra vez, fico contente em ver o rio a ganhar vida e animação.

Talves os Lisboetas sigam o exemplo dos golfinhos e aproveitem mais o Tejo.

Too big to fail


Antecedendo a reunião dos Ministros das Finanças da zona euro, realiza-se uma reunião entre os Presidente do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu para discutir o possível contágio à Itália da crise que consome a União Europeia.

Se as crises financeiras na Grécia, Irlanda e Portugal têm provocado tamanhas repercussões na economia e política da União, a eventual entrada da Itália ou da Espanha no grupo dos países que necessitam de ajuda elevaria a crise a um novo patamar. Acresce que se as respostas que a União Europeia tem dado às crises nos países periféricos, que têm economias relativamente pequenas, tem sido fraca e ineficaz, imagine-se o impacto que teria numa grande economia.

Há uma lição que a crise de 2008 nos ensinou: há economias e empresas que são grandes de mais para deixar cair. Na zona euro, a Itália é claramente uma dessas economias.

Se a crise chegar à Itália, apresentam-se dois caminhos à União: mais integração ou desagregação. Embora o segundo seja impensável, o primeiro exige coragem, visão e liderança - exactamente o que tem faltado à União Europeia.

Saturday, 9 July 2011

6 Mil Milhões de Nós


Hoje passei a manhã no MASP (Museu de Arte de São Paulo) a visitar a exposição "6 Bilhões de Outros" ou, em Portugal, 6 Mil Milhões de Outros. A exposição nasceu de uma tarde de conversa entre Yann Arthus-Bertrand, produtor do programa "A Terra Vista do Céu", e um aldeão no Mali durante a qual Arthus-Bertrand ouviu as preocupações, sonhos e aspirações do seu interlocutor.

Fazendo as mesmas perguntas a 5.700 pessoas de 78 países, 6 Mil Milhões de Outros mostra-nos pequenos vídeos onde ficam claras as semelhanças e diferenças das aspirações, sonhos, cotidiano e medos da humanidade, estejamos na Europa, em África, nas Américas ou na Ásia.

E se há coisas que nos distinguem uns dos outros, coisas há - como o medo da morte ou as aspirações para os filhos - em que a humanidade é igual a si própia e nada distingue o advogado australiano, do pastor etiope, do artista alemão, do pescador brasileiro ou do taxista português.

À saída da exposição, vamos confortados na ideia que não somos 6 Mil Milhões de Outros, mas sim 6 Mil Milhões de Nós.

Friday, 8 July 2011

Diogo Vasconcelos (1968 - 2011)


Morreu o Diogo Vasconcelos. Conheci-o em Londres, onde o Diogo se destacava na nova geração de portugueses altamente qualificados que vivem e trabalham no Reino Unido e que projectam a nossa qualidade, capacidade e inovação colectivas.

Nunca passámos de conhecidos a amigos e sempre que falávamos - pessoalmente, ao telefone ou nas redes sociais - prometiamo-nos mutuamente beber um café ou almoçarmos. Nunca aconteceu e agora já não acontecerá. Tenho pena.

Monday, 4 July 2011

Os últimos heróis americanos


No dia da Independência dos Estados Unidos, a Nasa prepara-se para a sua última missão tripulada num futuro previsível. Uma longa e muito respeitável aventura humana que nos emocionou e avançou as fronteiras do conhecimentio humano chega ao fim.

O fim das viagens tripuladas norte-americanas não significam (espero) o fim das exploração do espaço, mas não será o mesmo mandar máquinas no lugar de pessoas.

Saturday, 2 July 2011

Hoje somos poucos. Amanhã seremos (novamente) milhões


No início da respectiva presidência do Conselho da União Europeia, o Primeiro Ministro polaco Don Tusk fez um discurso optimista sobre o futuro da União que contrasta com o ambiente em Londres, Paris, Berlim e Bruxelas, proclamando que "a União Europeia é óptima. É o melhor lugar do Mundo para se nascer e para se viver".

Em particular, Tuck criticou a falta de liderança na resposta à crise do Euro, as tentativas de limitação do orçamento comunitário e, relembrando a ocupação soviética da Polónia, lamentou as tentativas de limitar a livres circulação de pessoas no espaço da União.

Será o regresso da União? Espero bem que sim!

A luz original


Nas fronteiras do Universo existe o que os cientistas chamam "o monstro de luz", um quasar que nasceu há quase 13 milhões de anos - apenas 700 milhões de anos depois do Big Bang - e que emite luz correspondente a 62 mil milhões de sois.

Segundo Stephen Warren, investigador do Laboratório de Blackett, do Imperial College de Londres que descobriu o "monstro de luz", este quasar é uma sonda para o ínico do universo que nos permitirá perceber melhor a sua formação.

Embora as implicações científica desta descoberta me ultrapassem, sabemos mais hoje do que sabiamos ontem e isso é sempre excelente.

Friday, 1 July 2011

A reabilitação de FHC


Durante a campanha eleitoral que deu a vitória à actual Presidente Dilma, o anterior Presidente Fernando Henrique Cardoso foi mantido à distância pelo seu próprio partido, após uma troca de opiniões mais viva com o então ainda Presidente Lula da Silva. De então para cá, FHC tem evitado pronunciar-se sobre a política interna brasileira, sem prejuízo para as reflexões públicas sobre a política de combate à droga.

A reabilitação do papel histórico de FHC, nomeadamente o seu papel na estabilização económica e financeira brasileira - o que é a base do crescimento económico do Brasil - surgiu de onde menos se esperava. Primeiro foi uma carta aberta muito elogiosa que a Presidente Dilma enviou por ocasião do 80º aniversário de FHC e hoje assisti a uma interessante reflexão pública sobre a importância de Henrique Cardoso para a história recente do Brasil, proferida pelo actual Ministro do Planeamento.

Não deixa de ser interessante e sintomático de alguma civilidade da política brasileira que a recuperação política de FHC seja protagonizada pelos seus adversários políticos e não pelo seu próprio partido.