Tuesday 13 May 2014

E o último fechou a porta


Com pouca ou nenhuma modéstia, transcrevo aqui o artigo que publico hoje no Diário Económico:

"No início a Europa era a guerra. E a guerra era constante e destruidora. E a guerra matou gerações incontáveis de europeus. Mas a guerra não parava e continuava a destruir e a matar em nome de nações e de interesses egoístas. Até que a guerra se tornou na encarnação do mal e a destruição ultrapassou o entendimento. E os Europeus disseram não à guerra.

E da guerra, nasceu a paz. E os europeus construíram um espaço de liberdade e de solidariedade onde a colaboração substituiu a desconfiança, o livre comércio substituiu as barreiras, os passaportes foram abandonados e a moeda partilhada. E as rivalidades nacionais deram lugar à preocupação partilhada de um crescimento harmonioso.

E a paz cresceu e multiplicou-se. E este novo espaço tornou-se num exemplo para outros que também queriam a paz. E aos poucos mais e mais Europeus se juntaram, deixando a guerra e vivendo na paz. E das 6 nações originais, a Europa de concórdia cresceu durante mais de meio século até somarem 28. E enquanto o mundo continuava em guerra e em conflito, a Europa aprofundou a cooperação e os laços que pareciam ter substituído a desconfiança e o conflito.

Mas havia quem não gostasse da Europa e quem desejasse que o relógio voltasse para trás. Essas vozes, que no início eram minoritárias e estavam isoladas, ganharam espaço à medida que aqueles que governavam a Europa se esqueceram que o faziam não por direito próprio, mas por vontade dos cidadãos da Europa. E a Europa foi ficando mais longe e menos compreendida.

E depois veio uma séria e longa crise. E muitos milhões de Europeus sofreram dificuldades. E os que governavam a Europa não souberam o que fazer e, esquecendo as lições do passado, colocaram os interesses nacionais acima dos interesses da Europa. E a Europa passou a ser olhada como parte da disputa política interna, sem valor intrínseco nem papel próprio, e as eleições usadas para punir ou premiar o governo nacional do dia.

E aqueles que lutavam contra a Europa cresceram e multiplicaram-se, pois eles apontavam o dedo à Europa e aos outros Europeus, agora de novo chamados de “estrangeiros”, e acusavam-os de serem os culpados de todos os males e todas as dificuldades. E os que acreditavam na paz, na justiça e na cooperação nada disseram e nada fizeram, continuando a agir como se nada de novo se estivesse a acontecer.

E na noite de 25 de Maio de 2014 a Europa foi dormir sabendo que o fim se aproximava. E o último a sair, fechou a porta."

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