Saturday, 9 April 2011

O umbigo e o País


Cerca de 50 pessoas (à data em que escrevo) de vários quadrantes políticos, profissões, idades e tradições publicaram um "Compromisso Nacional" que mais não é do que exigir às instituições políticas portuguesas que, pensando no País e não nos respectivos umbigos, tenham Sentido de Estado e estejam à altura das circunstâncias que vivemos.

Dizem os signatários:

"1 - Portugal está a viver uma das mais sérias crises da sua história recente. Essa crise tem uma dimensão financeira e económica, que se reflete no défice orçamental, no desequilíbrio externo, no elevado grau de endividamento público e privado e nos baixos índices de competitividade e crescimento da economia, com grave impacto no desemprego, em especial nas gerações mais novas; mas tem igualmente uma dimensão política e social grave, que se exprime numa crescente dificuldade no funcionamento do Estado e do sistema de representação política e em preocupantes sinais de enfraquecimento da coesão da sociedade e das suas expectativas.

2 - A crise financeira e económica mundial que se iniciou em 2007,com origem nos Estados Unidos, gerou em 2009 a maior recessão global dos últimos 80 anos e transformou-se, mais tarde, na chamada crise da dívida soberana, que abriu no seio da União Europeia um importante processo de ajustamento político e institucional, afetando de modo especialmente negativo alguns dos Estados membros mais vulneráveis, entre os quais, agora, Portugal.

3 - Nesta situação de grande dificuldade, em que persistentes problemas internos foram seriamente agravados por uma conjuntura internacional excecionalmente crítica, os signatários sentem-se no dever de exprimir a sua opinião sobre algumas das condições que consideram indispensáveis para ultrapassar a crise, num momento em que a dificuldade de diálogo entre os dirigentes políticos nacionais e a crescente crispação do debate público, nas vésperas de uma campanha eleitoral, ameaçam minar perigosamente a definição de soluções consistentes para os problemas nacionais.

4 - Essas condições envolvem dois compromissos fundamentais:

a) em primeiro lugar, um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de execução de um plano de ação imediato, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular financiamento da economia, evitando perturbações adicionais numa campanha eleitoral que deve contribuir para uma escolha serena, livre e informada; este compromisso imediato deve permitir que o Governo possa assumir plenamente as suas responsabilidades para assegurar o bem público e assumir inadiáveis compromissos externos em nome do Estado.

b) em segundo lugar, um compromisso entre os principais partidos, com o apoio do Presidente da República, no sentido de assegurar que o próximo Governo será suportado por uma maioria inequívoca, indispensável na construção do consenso mínimo para responder à crise sem a perturbação e incerteza de um processo de negociação permanente, como tem acontecido no passado recente; numa perspetiva de curto prazo, esse consenso mínimo deverá formar-se sobre o processo de consolidação orçamental e a trajetória de ajustamento para os próximos três anos prevista na última versão do Programa de Estabilidade e Crescimento; e, numa perspetiva de médio/longo prazo, sobre as seguintes grandes questões nacionais, relacionadas com a adaptação estrutural exigida à economia e à sociedade: a governabilidade, o controlo da dívida externa, a criação de emprego, a melhor distribuição da riqueza, as orientações fundamentais do investimento público, a configuração e sustentabilidade do Estado Social e a organização dos sistemas de Justiça, Educação e Saúde.

5 - As próximas eleições gerais exigem um clima de tranquilidade e um nível de informação objetiva sobre a realidade nacional que não estão neste momento asseguradas. A afirmação destes compromissos, a partir de um esforço conjunto dos principais responsáveis políticos, ajudará seguramente a construir uma solução governativa estável, que constitui a primeira premissa para que os Portugueses possam encontrar uma razão de ser nos sacrifícios presentes e encarar com esperança o próximo futuro."

Dir-se-ia que nada disto é extraordinário, irracional ou partidariamente motivado. Mesmo assim, ficarei muito e positivamente surpreendido se a campanha eleitoral e o periodo que se seguirá tiver qualquer aderencia ao que se sugere neste texto.

Em tempo: Lendo alguns dos comentários deixados pelos leitores dos jornais on-line, constata-se que a vasta maioria passa mais tempo a acusar os signatários do texto de qualquer mal-feitoria do que discuti-lo. Tratando-se de uma amostra muitíssimo reduzida, é aquela que resolveu pronunciar-se, o que levanta a questão: Teremos a realidade que merecemos?

2 comments:

  1. Meu caro Bernardo, o texto é suficientemente vago para podermos estar quase todos de acordo, o problema é a sua concretização e, para isso, dúvido que os signatários se consigam entender, pois lêem coisas diferentes no texto que subscreveram.
    De todo o modo, não pode deixar de se registar o apelo aos consensos, quando alguns dos signatários têm, até esta data, contribuido, segundo as suas possibilidades e oportunidades, para a crispação política que levou à situação em que estamos.
    Um abraço,
    Vicente

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  2. Meu caro,
    Se as pessoas que até à data têm deitado gasolina na fogueira agora reconhecem que a situação exige consensos e Sentido de Estado, então, talves, nem tudo esteja perdido. Ou, pelo menos, assim espero.
    Um abraço amigo,
    Bernardo

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