Monday, 1 August 2011

Choque de realidades

Hoje dirigi-me à Loja do Cidadão (para quem lê estas notas no Brasil, um "one-stop" onde podemos tratar de todas as burocracias de uma só vez) para alterar a morada (endereço) no meu cartão do cidadão (o RG), substituir o meu passaporte que está quase a caducar, substituir a minha carta de condução (carteira de habilitação) que ainda é inglesa e pedir uma segunda via dos documentos da minha mota. Estava confiante, já que na companhia de um bom jornal e o IPod, trataria de todos os documentos numa manhã e não teria que pensar em papéis por muitos e bons anos.

Cheguei à Loja do Cidadão, depois de uma reunião matinal com as pessoas com que irei trabalhar a partir de Setembro, por volta das 11H00 para me confrontar com filas de pessoas que bloqueavam o acesso à porta do prédio, quanto mais aos balcões que eu procurava. Mas não desanimei! Meti-me na mota e, debaixo de uma estranha chuva de Agosto, rumei ao outro lado da cidade, onde me tinham dito, haveria outra Loja do Cidadão sem ninguém.

Lá chegado, percebi que afinal não era uma Loja do Cidadão mas sim um posto de atendimento dos Registos. Sem prejuízo, poderia tratar dos documentos da mota, do cartão do cidadão e eventualmente do passaporte (já que as opiniões se dividiam quanto a este último). Avancei corajoso e encontrei uma sala grande, arejada e vazia onde uma senhora tratou dos documentos da mota em menos de 10 minutos. Crédito para o funcionalismo público que recebeu e despachou este membro do público com eficácia, simpatia e rapidez!

Dirigi-me depois para outra sala onde poderia tratar do cartão do cidadão e, eventualmente do passaporte.

Começou então a descida ao inferno dos burocratas numa sala cheia de gente, com filas que avançavam a passo de caracol esperei mais de uma hora, primeiro em pé e depois sentado e sem o jornal que me esqueci de comprar,  para ser atendido por uma senhora muito simpática que me perguntou se vinha buscar o cartão do cidadão. Responde-lhe que não. Que vinha apenas alterar a morada (endereço) já que ainda estava registado como vivendo em Londre e que agora estava de volta a Portugal. A senhora pediu-me então os códigos de segurança do cartão que me tinham sido dados numa carta. Expliquei-lhe que não sabia da carta, razão pela qual tinha-me dirigido aos serviços já que, se soubesse os códigos, poderia ter tratado tudo pela Internet e não teria perdido parte da manhã e parte da tarde naquela sala.

Aqui começou a trágico-comédia! Olhando para mim com um ar simpático e mesmo pesaroso, a senhora explicou-me que sem os códigos não se podia fazer nada e que teria que tirar um novo Cartão! Fiquei siderado!! Mas se eu estava ali, se o cartão me pertencia, se eu queria mudar a morada, se a senhora tinha acesso à informação armazenada algures nos sistemas informáticos do Estado, não haveria forma de alterar a morada sem os códigos sem ser necessário emitir um novo cartão? Não, disse-me ela como se fossa absolutamente óbvio.

Com alguma vontade de rir, resignei-me e preparei-me para pedir à senhora a emissão do novo cartão. Eis que entra o funcionalismo em toda a sua força. Explica-me a senhora que eu tinha tirado uma senha para mudança de morada e não a senha para emissão do cartão e que, embora fosse igualmente ela a tratar da emissão do cartão, eu tinha a senha errada. Teria, portanto, que tirar uma nova senha e aguardar mais umas horas para poder voltar à sua imperial presença, desta vez com a senha certa. E quanto ao Passaporte, só começariam a tratar disso naquele balcão semana que vem.

Resumindo o resto da história, voltei para casa, debaixo de ainda mais chuva, sem ter almoçado, sem  
cartão do cidadão, sem passaporte e sem carta de condução.

Amanhã às 8H30 da manhã estarei de volta à Loja do Cidadão, desta vez com o jornal.

1 comment:

  1. afinal a burocracia está por toda a parte, não é?

    ReplyDelete