Wednesday, 27 July 2011
A vida dentro de caixas
Já perdi a conta ao número de mudanças que fiz desde 2001 e, pensando em cada um dos lugares onde vivi, não me arrependo de nenhuma. Mas detesto as caixas que fazem parte das mudanças e sejam quantas tenham sido, hoje lá fiz mais uma.
Entram-nos pela casa a dentro, vestidos de igual e carregados de caixas, papéis de tamanhos e texturas diferentes, fitas adesivas e ferramentas. Olham com olhar entendido para as nossas coisas - que a nós muito dizem mas que para eles nada são - medem espaços, embrulham tudo com rapidez e eficiência e num instante, toda a nossa vida desaparece em quase 100 caixas numeradas e identificadas. Depois aparece um caminhão que engole as caixas para as meter num navio que atravessará parte do Atlântico sul e parte do Atlântico norte desde o porto de Santos até ao porto de Lisboa.
Eventualmente as caixas chegam a casa. Novo drama e nova crise: onde meter as caixas de forma a não sermos nós explusos de casa. Abri-las e tentar organizar as coisas que chegam com as coisas que nunca partiram. Dias e dias a olhar para as caixas que - por mais que trabalhemos - parecem não acabar.
E depois, se o padrão se mantiver, nova mudança sabe-se lá para onde com esperança de tudo correr bem e fazendo por não pensar nas caixas que nos seguem - obedientes mas assutadoras - levando a nossa vida de um porto para o outro.
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